quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Um pé de mangueiral, por Wagner Bezerra Pontes


Praia de Tamandaré litoral sul de Pernambuco.


18-03-12

Acordara às cinco e meia, maldita hora que me persegue desde que me invento a escrever. Uma intensa chuva cai sobre nós e por entre as janelas de vidro as gotículas se formam minimamente a escorrerem macias pela superfície, como quem deseja ser pego por entre mãos e pernas em brincadeiras de meninice. Um clima abafado tentara consumir o ar em que mal os olhos sustentara o despertar. Esperávamos cientes, impacientes pela recuperação do sol gripado de beleza dégradé. Um anseio corroia aquela mais maçante desgastada e experiente vida, somos dois pardais, uma loba perante uma anciã tartaruga carregada de segredos e histórias a contar. O carro não chegara no horário previsto. Malas prontas carregadas de energia ansiada em ser gasta até a ultima gota. Uma torrente cai sem parar, durante meia hora seguimos estrada adentro sem imprevistos, engarrafamentos. Uma onda de calmaria e satisfação começa entornar o ambiente. A grande culpa talvez venha a ser dos montes, dos céus os quais por ora nublados, ora encharcados de suor e dos campos verdes que transbordam diante de nossos olhos demasiadamente sedentos por cor, vida, amor. O espírito já não suporta mais tanta emoção e se contorce, revira dentro da caixa corpórea buscando um leve suspiro/redenção para tanta sede, fome, razão.

Um caminho de uma reverencia inesperada surge com sua rigidez, ornamento e beleza natural. Fôramos cercados por um corredor imenso de bambus que nos espreitavam com sua polidez sensata de guardiões da terra e do mar. Prosseguimos inertes, imersos dentro do carro pelo esverdeado brilho da estrada aparentemente sem fim. Até o encontro com o nicho que nos esperava para abrigar os dias que seriam consumidos num pôr dor sol, reconfortando e ajudando-nos a saciar a sede insustentável.

Uma leve caminhada na areia da praia amaciara os pés cansados da concretude cimentária do subúrbio abandonado. O vento teimava em lamber o rosto, os cabelos e os pulmões anestesiados de tanto ar revolto. As ondas rebatiam sua felicidade espumante na areia entre as pernas das crianças e seus castelos-mar. Os quais imediatamente foram consumidos sem chances de respirar.

Corpos grandes, pequenos, cheios, vazios, duros, macios, novos, velhos puderam se perder e se olhar nas ondas do raio solar resfriado. Pequenos seres de focinho comprido, curto, úmidos, pêlos estirados, encaracolados ladram felizes a companhia do som-mar. E neste momento lembro de minha amiga canis que não pude trazer por motivos de locomoção. Imagino-a correndo, respirando a maresia, e diante de tamanha surpresa ao encontrar uma grande quantidade de água salobra, recear molhar as patas de felicidade perante o desconhecido e encantado espumar das ondas.

O corpo começara a ceder aos encantos de Morpheu, caminhara por entre os sons maquinários de trombetas, saxofone, bumbos e trombones do carnaval. Onde o retorno aos jardins suspensos perceberia a inusitada visita de dois viajantes, os quais procuram, perto de um pé de mangueiral, alguma coisa que os deixe mais lindos num eterno mural, um lindo casal de Pica-Paus. A sensação de que o ano começa bem e algo mais falta no coração é sentida com o calor da noite de verão. E transpirando sede, como um pássaro entornado descansa sua cabeça, seu corpo e sua alma com uma certeza marcada na nostalgia de uma paixão.


5 comentários:

Israel Costa disse...

Belíssimo texto Wagner. Distanciar-se do asfalto, fumaça, barulho e apreciar a natureza no tato e nos olhos nos faz um bem incrível ...

Pena não ter levado a Canis. Fiquei pensando aqui nos convites que sua prima me fez também ... fiquei com inveja de não ter ido.

Anônimo disse...

Tradutor dos mais belos sentimentos e sensações!Adorei!!Faltou nosso amigo Israel,pra traduzir tudo isso através de suas belas capturas ;)

(: disse...

-Chega a ser gracioso o modo como descreve um dia do típico verão pernambucano e o tamanho lugar que ocupa a sua 'canis' em sua vida mas também ao fim do texto percebo [talvez] um ar de que ainda falta/procura uma quem sabe "nostalgia de uma paixão".

Meus mantos rubro negros disse...

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