terça-feira, setembro 06, 2011

Memorial de um canis bestificado - parte II



Há uns três anos, para ser exato: acredito que no final de novembro de 2007, começara um tratamento intensivo, uma batalha árdua contra todos os demônios conhecidos ou não. Apenas enfrentados com garras e urros e sem voltas a dar nos parafusos. O mundo simplesmente nunca fora o mesmo, e todo aquele amor construído por toda uma vida se esvaíra como a água do mar recolhida para uma piscina de areia cavada a balde e muita transpiração.

Num sábado ensolarado onde a chuva trelava em brincar sob as nuvens, eis que passo pelo Mercado da Madalena, típico ‘mercado de bairro’ famoso por suas atrações de entretenimento, bares, comidas típicas da região Nordestina e muito mais. Avisto de longe uma singela jaula pequenina, onde pequenos ‘ursos de pelúcia’ dormiam calmamente. Talvez o calor, ou a tenra idade dos pequeninos seres, ou quem sabe a tristeza em seu olhar tenha me chamado a atenção. De modo que, andava cativo por um afago, acredito que toda forma de trabalho com o autoconhecimento gere uma aguda sensibilidade diante das coisas. Um sentimento de pena ou compaixão com aqueles, explicitamente explorados pela ambição demasiada do homem fizera surgir um sentimento, uma vontade, um desejo, um ter, um sentir de vida em minhas mãos. Não uma vida como a do machado raskolnikoviano sentira pulsar por entre as veias da pobre velha, mas uma vida a qual deseja submergir do fundo do mar num sufoco por litros e litros de ar. Seu pequeno focinho arredondado, pêlos levemente enroscados e amarelados, olhos que mal abriam à enxergar a beleza e feiúra deste mundo caduco e cruel sem opção.

Por um mês de idas e vindas na busca de um equilíbrio extraordinário, afinal quem é perfeito?! Um só desejo me consumia, pois é engraçado pensar que repetindo o que disse antes: acredito nunca ter sido adepto de afeição por animais de estimação. Talvez não houvesse a necessidade em compartilhar meu amor com alguém ou alguma coisa além de meus pais e meu mundo/vazio, no sentido de sentir essa brancura, já que tal estado racionalmente não é possível, pois ‘ser vazio’ numa imensidão onde tudo poderia ‘ser preenchido’ não teria tal razão para tal ato ou des-posição.

Sempre quis e confesso que, embora os maus olhos venham a me devorar, acredito na interligação das coisas, as quais povoam todo o universo e para explicar melhor tais preceitos nos quais conheço e ‘tenho fé’, talvez fosse preciso mais algumas ‘digressões’, estas que não farei, num mundo o qual me fascina tanto quanto a comunicação: a Física.

Mas o ponto final e importante é a de que no dia vinte quatro de Dezembro algo veio para mudar radicalmente a mim e minha família, surgira materializado meu antigo e juvenil medo a minha frente: de olhos tristes, pêlos negros aonde não cabiam mais, focinho comprido, corpo quente e pequeno o qual cabia inteiramente em uma mão, uma poodle: Nina.

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