segunda-feira, agosto 29, 2011

Memorial de um canis bestificado - parte I


Confesso que em menos de quatro horas tenha me deparado com assuntos semelhantes de escritores geograficamente despolarizados neste universo de bits e bytes: um do sul outro do norteJá que a forma como os dois escritores teceram suas memórias acerca de seus animais de estimação passado é simplória, como quem bate uma conversa quando pergunta a hora ao vizinho que espera ansioso a chegada de um ônibus, ou um diálogo banal numa manhã sonolenta numa padaria em seu ritmo 'quotidiário'. E resolvi seguir a mesma linha, ou tema. Tentarei aqui escrever coisas de um passado, mas acredito que de alguma forma minha mente bloqueie as lembranças e memórias no momento deste processo manual. Não se surpreenda caso meu relato venha a tornar-se um pouco ficcional.  Pois tal ato de expiração, seria só mais uma justificativa de dispositivo em forma de exercício prático, em quando penso na expressão 'escrever'. Eis minha impressão:


Dos meus cinco, seis anos de idade até a pré-adolescência a lembrança que tenho é de um tremendo medo de cães. E refletindo repentinamente, acredito nunca ter sido adepto de afeição por animais de estimação. Talvez não houvesse a necessidade em compartilhar meu amor com alguém ou alguma coisa além de meus pais e meu mundo. Já que nesta idade, é comum acharmo-nos seres poderosos e sábeis diante de um mundo onde só os grandes predominavam. Como um aprendiz de feiticeiro acreditando cegamente no poder do velho pó mágico de Merlin.

Lembro-me dos meus primos (por parte de pai, filhos de sua irmã, assim sendo seus sobrinhos), sempre que ia visitá-los já imaginava toda a cena: Subir os degraus dos três andares, das escadas que mais lembravam um caracol ou uma espiral de caderno gigante solta ladeira abaixo capaz de deixar qualquer um tonto. Mas fascinante para qualquer criança como eu na época, ver os degraus daquela escada singular por ângulos ligeiramente finos com terminações largas, aqui se semelhando a uma escada típica. Num misto de medo, ou receio de pisar em falso e cair rolando degrau abaixo. Chegar à porta, tocar a campanhinha e escutar o latir daquele maldito cão. ‘O pequinês’. Cão, o qual não tinha tamanho de tão pequeno e de agudo irritante, mas de uma brabeza semelhante a qualquer pitibul.  Claro que nessas horas meu pai sempre dizia: ’Calma não precisa ter medo, ele só morde se você demonstrar. ’ Como uma criança faz para não sentir tal terror diante de tamanha filosofia canis?! Estou invadindo seu território, fui avisado de que não devo mais me aproximar, um passo a mais e acabaria a história.

 A minha relação com cães sempre fora meio caótica, além desta cena, quem nunca teve primos gozadores?! Em se tratando de um medo juvenil, quando íamos comprar chicletes ou doces na venda a uns cem metros do prédio, perto de um casarão de aspecto Edgardiano e seus contos extraordinários. A diversão e o medo faziam com que nossas mentes flutuassem mais que bolha de sabão. Havia à hora marcada para a liberdade de tal ser, e pensando bem, não entendo ‘o porquê’ de sempre no finalzinho das tardes irmos a venda comprar baboseiras justamente na hora do perigo escapar. Meu primo corria de repente a gritar, ‘Corre que Sansão fugiu!!!’ Sem olhar para trás e prendendo todo o fôlego com os chicles na boca, o doce pervertia-se num azedume negro como num dia de tempestade. Tal cena ocorrera, por divertimento de meu primo mais velho algumas vezes, por termos presenciado da varanda um dobermann, que vez ou outra, teimava fugir da tal ‘Casa de Usher’. Que por sorte nunca fora presenciado por mim na infeliz Rua de Domingo a tal liberdade canis.

E quando num final de semana ao irmos para uma praia distante da cidade, brincávamos fascinados com os raios de sol imitando cachorros felizes a pular o espumar e o chiar das ondas, o medo sempre atrai e fascina o homem, e dessa vez surgira o latir de quem menos queríamos companhia no abandono daquela praia vazia. Um cão de rua começara adentrar as ondas, gosto de pensar que talvez fosse para brincar ou quem sabe atraído pela vocalização e urros que fazíamos a beira mar na busca de uma comunicação/entendimento da linguagem familiar. E o medo nos consumira num só modo de fugir como num galope feroz para a rede de proteção fraternal. Os pais a correr e a nos acudir, segurando pelos braços num estúpido aviso: ‘Não corra porque é pior!’ A velha história, ‘se correr o bicho pega e se ficar o bicho come’, mas neste caso ele não pegou e nem comeu!

4 comentários:

renata.ferri disse...

Apesar de, desde sempre, ser grande entusiasta dos dogs (tenho 1 rotweiller, 1golden retriever, 2 mistura golder-rot, e 1 labrador), sempre achei a filosofia canis algo impressionatemente mistico.

:)

marize disse...

Renata,você é especial,porque eu também queria ter uns 4,5 cachorros só que o espaço é pouco ,pois eles nos dão lição de paciência, de amor , tolerância ,companheirismo incondicional.

marize disse...

O mundo das crianças é quase parecido com dos animais,só que elas crescem e contam o quanto eles foram importantes em seu mundo e os carregam por toda sua vida e os animais crescem e no seu silencio continuam esperando o retorno dessa criança!

Wagner Bezerra disse...

Olá Renata, fico realmente espantado com tantos dogs..hehe ^^ eu atualmente tenho só uma poodle preta nº1 e hoje em dia tbm sou fascinado pela filosofia Canis, obrigado pelo seu comentário e as outras partes do texto serão escritas depois... =D

Agradeço tbm o seu comentário Marize, gostei muito do que vc disse: "...os animais crescem e no seu silencio continuam esperando o retorno dessa criança!"

Abraço! =D