sábado, agosto 04, 2012

Esboço para um Manifesto da Lentidão, por Wagner Bezerra

Violent Waves de Circa Suvive

 Escrito por Wagner Bezerra Pontes

           O tempo urge, retumba sob as pegadas das velhas e raras tartarugas. As lebres e seus leves companheiros, os coelhos, estão sempre a sussurrar: "Por minhas orelhas e bigodes, como está ficando tarde!". Enquanto tudo arde e queima sem deixar cinzas, a ventania continua a levar o meu barco e sua pequena vela timidamente içada às memórias de um passado inexato. Este no qual sem percebermos, num simples passo em falso poderíamos guardar nossa voz. 

Escrever, eis uma tarefa árdua, penosa, conflitante e além de tudo exigente de paciência e suor, seja da mão de quem segura um lápis ou da testa que brilha diante da tela de um computador, num quarto abafado e escuro. Porque será que está imagem permeia tanto minha mente quando começo a escrever?! Um mundo que ao entrar não há mais volta. Não seria simplesmente juntar letras para um diálogo a custo e modo. Todos sabem e não entrarei nesses assuntos acadêmicos de significantes, significados e etc., da formação de palavras. A estrutura e a formação de cada língua, a sua sintaxe e etc. servem para o bel expressar/comunicar. E é nestas horas que percebo, o quanto deveria ter prestado atenção nas aulas de linguística.* (Grifo meu de que devo re-ler mais).

Mas então, qual o assunto/tema desta maldita crônica?! As palavras e assuntos dos mais variados foram surgindo e se conflituando, esmurrando-se pela viela de meu corredor mental por uma brecha de luz. Apenas uma coisa a falar: Voltei a escrever! Se me perguntares: O que, sobre o que e porque voltaste a escrever?! Digo que, o silêncio nos fala muito mais do que o toque de uma sonata exasperada pela dissonante nota abafada. Semana passada ouvira uma palavra repetida de forma exaustiva, ao ponto de senti-la. "Projeto". Sim, mas então voltaste a escrever por que tens um projeto em andamento? Ou porque queres iniciar um projeto? Se o querido leitor(a) desta louca página percebeu, jogar assuntos e não concluir nada, é uma das formas mais antigas de compor uma crônica amaldiçoada.

Afinal, a moral é lembrar que o mundo está rápido demais para seguir sob a curva do universo. Correr quando se tem fôlego, ou quando se foge de algo e/ou alguém, ou por simples instinto. Eis que surge a palavra de nossa Era: Medo. Vivemos com medo de gastar o tempo, de não termos gastado nosso tempo, o dos outros... Há uma urgência em viver, ser, ter. Ninguém pára. Pretendo fazer um esboço filosófico da não-urgência. Esboço não, mas quem sabe um manifesto?! Sim! Um Manifesto da Lentidão!

4 comentários:

(: disse...

NÃO PAREEEE! Pessoas que conseguem traduzir o íntimo com palavras são verdadeiramente abençoadas.Aprecio muito o que escreves e admito que certas crônicas trazem uma certa paz para minha ânsia.

Wagner Bezerra disse...

Olá Smile, eu não disse que iria parar, apenas afirmei que uma ação mais lenta do que o comum dessa sociedade... então os textos serão um pouco demorados a sair do forno...

Agradeço mais uma vez a leitura e o comentário me deixa muito feliz em saber que meras palavras te deixam em paz, se eu tivesse só um leitor(a) em todo este universo pode crer que estou muito feliz...

Abraço! ;)

Evelyn Postali disse...

Você tocou em algo que me arrebata. O tempo.
Talvez o estranhamento no tempo seja nosso, afinal é o nosso respirar que faz nosso movimento. Talvez devêssemos parar por completo vez ou outra, ou quiçá, inverter nosso pulsar. Fazer o caminho contrário, desviar obstáculos, percorrer vias mais tortuosas. O sentido do tempo está em nosso viver, em nosso olhar. É a nossa percepção que faz o dia.
Não sei... Esse tema provocou-me aqui...

Wagner Bezerra disse...

Concordo com tudo que disseste, nesta nossa Era o tempo está sendo esquecido de modo a não ser utilizado corretamente... corremos e corremos muitas vezes por imposição sem nos darmos conta...

E Fico feliz que minhas humildes palavras tenham provocado em ti algo.. rsrs

Abraço! ;)