quarta-feira, dezembro 07, 2011

Tempos Modernos e o grande lema, por Wagner Bezerra


 Desta vez apresento uma análise sobre um grande clássico da sétima-arte, ainda nos tempo do cinema mudo: Tempos Modernos. Procurando abordar de maneira histórico, politico e sociológica a análise pretende configurar um olhar sobre uma época iniciada e que continua com certo vigor na sociedade contemporânea. Abrindo assim, uma outra questão para uma próxima análise fílmica: Qual seria a verdadeira realidade do homem?! Já que muitas vezes este necessite recriar um mundo e confirmá-lo a partir deste extra-real, isto é, o ficcional pode ter uma parcela de real?! Quais seriam os limites do real e do ficcional? O que é real?!

Tempos Modernos e o grande lema
Download do filme Tempos Modernos

  O capitalismo surgiu na metade do século XVIII, findando os últimos vestígios do feudalismo na sociedade. Trouxera mudanças significativas na vida do homem tanto na política, quanto na sociedade e no meio cultural. Levando-nos a refletir e questionar o surgimento de tal acontecimento: Afinal para que serve o capitalismo? O seu surgimento trouxe vantagens ao homem? Como permaneceram estes diante desta nova organização econômica? E é através do último filme mudo de Charlie Chaplin, Tempos Modernos (1936), que procurarei destacar de forma reflexiva três aspectos vivenciados pela personagem do filme. Assim relacionando suas vivências aparentemente ‘ficcionais’, com a realidade do novo segmento econômico (capitalismo) surgido na época em questão e que perdura até os dias atuais.
  No inicio do filme há uma assertiva: “Uma história da indústria, da iniciativa privada e da humanidade em busca da felicidade.” Levando o espectador à reflexão do seu conhecimento prévio sobre os ‘Tempos Modernos’. O qual induz a lembrança de que a partir da Revolução Industrial um novo segmento político, econômico e cultural viera a modificar toda a sociedade.
  A Revolução Industrial surgira primeiramente com o intuito de alterar profundamente a antiga sociedade econômica, a nobreza e o clero, as quais eram as maiores detentores de riqueza, a terra. Pois a sociedade sendo basicamente agrária não existia outros meios de organização trabalhista. Mas eis que surge uma nova classe social, os comerciantes e artesãos, os quais trabalhavam nos centros urbanos que começavam a surgir. Investindo nas primeiras indústrias de cunho manufatureiro, as quais já tinham divisões de trabalhos e ‘inúmeras atividades’ técnicas nos desempenhos de seus empregados às máquinas.
   Na primeira parte do filme é visível uma crítica metaforizada ao novo modo de produção capitalista. Onde o homem-proletariado ao sair da estação do metrô em busca da troca de sua força de trabalho por salário, é comparado ao rebanho de ovelhas que sai do curral, classificando-os assim como um segmento inferior da sociedade dominantemente burguesa.
   Em seguida imagens do movimento urbano, populacional e industrial se opõem e somam-se em relação à expansão e crescimento da cidade e sua população a partir do surgimento da indústria, fator relevante neste processo capaz de nos fazer refletir sobre o momento histórico do êxodo rural. Onde o desenvolvimento da indústria e a mecanização dos campos, obrigaram grande parte da população rural a deslocar-se para a zona urbana em busca de oportunidades trabalhistas nas fábricas. Inconscientemente gerando um conceito de que vida feliz seria através da troca de força de trabalho por um salário, pois a partir dele o consumo viria ser o próximo passo.
  Há também um momento onde nos é mostrado o presidente da indústria, em que nosso personagem principal intitulado no filme: industrial worker e mais conhecido como Carlitos, tem um poder onisciente sobre seus trabalhadores. Sendo capaz de verificar, a partir de câmeras, como anda o processo de produção de sua indústria e se o desempenho de seus operários viria a ser positivo. Controlando a velocidade com que devem ser fabricados os produtos, assim gerando certo desconforto e um processo de maquinação do homem-proletariado. Entendendo como a repetição do mesmo movimento na área executada pelo empregado. Já que cada indivíduo seria responsável e especializado por uma função na produção de bens, e se um viesse a falhar todo o processo não desencadearia corretamente.
  O filme trata em especifico o momento após, no qual os Estados Unidos sofrera com a grande crise econômica, a quebra da Bolsade Valores de Nova York (1929). Já que nos E.U.A se concentrava grande parte do poder econômico mundial. Milhares de pessoas em todo mundo começaram a sofrer com tal crise; perderam seus empregos, pois empresas com alto nível de produção acelerada, começavam a encontrar dificuldades na venda dos produtos recém fabricados. Levando empresas a estocarem ou até destruírem o excesso de produção, prejudicando assim o seu próprio sistema financeiro e o não rendimento na manutenção do trabalhador. Devido a pouca existência de compradores para o suprimento dos produtos, os déficits das empresas começaram a crescer e muitas vieram a falir e fechar as portas. A chamada Grande Depressão instalou-se no ‘peito do mundo’ para favorecer o caos nas correntes políticas e sociais de toda Europa e América.
   Na segunda parte do filme podemos perceber este acontecimento histórico, onde uma grande revolta da população trabalhista, na luta pelos seus direitos como cidadão. Vem a reclamar e exigir providências do Estado ou empresários (burguesia), os quais eram os novos representantes no desenvolvimento da economia de um país. Onde nosso protagonista, atuado por Charlie Chaplin, é confundido como o líder das manifestações dos desempregados, e preso por reivindicar através de cartazes a exigência de mais empregos e igualdades entre as classes sociais.
  Em seguida vemos o quanto à decadência estava em alta na sociedade burguesa. Após o cumprimento da pena de Carlitos, o próprio é avisado de sua liberdade, contrariando a expectativa do delegado ele expõe abertamente a sua preferência em permanecer na prisão. Podemos entender assim, que a causa do ‘conforto’ proporcionado pela comida, cama e roupa lavada existente em tal delegação, seria um privilégio do qual os cidadãos desempregados e pobres não têm fora desta instituição. E a condição de não ter que trabalhar, ou estressar-se com a velocidade e o caos do mundo moderno (urbano-industrial) seria mais satisfatório ao homem-personagem.
   A terceira e última parte a ser pontuada, seria a crítica ferrenha aos costumes da cultura burguesa. Onde o Carlitos ao conhecer uma garota órfã, relata num devaneio em frente a uma casa de um típico bairro burguês, como seriam felizes se vivessem igualmente a mulher que se despede do marido no dia de trabalho. Onde teriam comida, casa arrumada, roupa limpa e dinheiro para consumir nos seus prazeres. Numa assertiva irônica ao final do devaneio: “Eu farei isto! Nós conseguiremos uma casa, nem que eu tenha que trabalhar para isto!”.
  Concluímos que apesar de todas as divergências e caminhos trilhados pelo homem- personagem em busca de ‘conforto’, felicidade e um bem-estar significativo diante da sociedade em que vive. Teria sido a mais singular das revoluções que o homem absorvera diante da nova perspectiva mundial. Aonde a vinda do progresso, do enriquecimento, da competição e individualização seria o grande lema ou regra dos Tempos Modernos

Um comentário:

Pessoa S/A disse...

Muito interessante sua análise de "Tempos Modernos", Wagner.
Mais de 70 anos depois, o filme continua tão ou mais pertinente do que na época em que foi lançado... Gostaria que você tivesse comentado a clássica cena em que o personagem-operário é engolido pelas engrenagens do sistema.

Abraço

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