segunda-feira, outubro 31, 2011

Rapsódia de um coração congelado, por Wagner Bezerra Pontes

Nicholas Rodney Drake




Eram cinco horas e trinta minutos da manhã quando o galo começara a cantar. O sol pendia de lado espalhando seus raios embaraçados de luz. O vento começara a acordar das árvores, e suas folhas dançavam sob os finos e grossos galhos, sedentas de paixão iluminada. Onde um pequeno ninho cercado de inábeis passarinhos pelados grunhia e escancaravam suas imensas bocas por comida matinal. O céu completava o quadro com seu azul torneado de brancura chantilly almofada.

O primeiro pensamento do dia surgira como um nevoeiro cinzento: ‘Que dia será hoje?!’. Olhara o relógio ao lado da cabeceira de madeira enervada de aparente cupim, e se dera conta de que não soubera onde estivera e o que tivera feito na noite anterior, que o deixasse completamente amnésico na manhã seguinte. Subitamente vestira uma calça jeans a qual estava jogada ao lado da cama, uma camiseta preta com um desenho de um labirinto incompleto, e completando o movimento com um olhar rápido ao espelho, o desespero ao notar sua ausência vaga e distante no material. ‘Meu Deus, que diabos está acontecendo comigo?!”

A respiração prontamente se confundira com a cor e o teor virulento do quarto abafado pelo calor do sol que começara a crescer. Uma mistura incandescente de desejo e medo transitava pelos nervos de sua boca e de seus olhos, os quais agora admitam a absurdidade insustentável daquela manhã trancafiada pelo quarto. Consigo pensara mais uma vez: ‘O que está acontecendo?!’ Flashes começaram a nocautear sua mente. Uma rua deserta. Uma esquina e pessoas a correr. Corpos estirados. O chão entreaberto. Marcas de sangue. Não saberia distinguir a beleza daqueles seres que se expurgavam do solo ao céu, sobrevoando sobre suas sombras e aparentemente sem rostos. Algumas de leves e apodrecidas capas negras, como se uma besta estivesse à solta procurando um leve sorriso dourado para entornar a escuridão. E uma leve chama cinzenta saíra de sua pele ao tocar num metal. A sede. E o cheiro.

Ah! O cheiro, que impregnava como uma queimada da alma dentro de um forte e vermelho desejo. Este que não cessava nem mesmo depois do sabor quente e amargo do velho vinho e do beijo. Seus olhos forçaram uma expiração, o qual não conseguira destilar de sua alma. Então, tivera a complexa certeza de que tudo agora se resumia ao sangue e um coração sob a mesa.




Nenhum comentário: