quarta-feira, outubro 12, 2011

‘A CERCA NÃO ESTÁ SÓ LÁ FORA, ESTÁ NA SUA CABEÇA!’, por Wagner Bezerra Pontes


Desta vez abro uma nova seção no blog, onde pretendo fazer análises de filmes que assisti e gostei. Começarei em homenagem ao Dia Mundial das crianças,  uma análise acerca do filme Fuga das Galinhas (Chiken Run,2000). O qual num primeiro momento se reflete numa perspectiva de filme de 'teor infantil', com a 'simples intenção' de entreter a criançada. Não obstante, toda a produção contemporânea da sétima arte, não têm buscado mais o simples devaneio (ou alienação), entretenimento, sem que um viés critico seja abordado mesmo que de forma implícita sobre o comportamento do ser sejam eles sociais, políticos ou ideológicos. Mas a simbiose da fantasia (entretenimento) e com o viés filosófico, no stricto sensu de que a filosofia serviria como a busca pela compreensão e conhecimento das coisas que cercam o homem. Tornando-se ação na forma de como o sujeito daria significação a sua existência. Assim como uma luz na escuridão combate toda a negritude do espaço para tornar-se caminho e razão funcional.

Download do filme: A Fuga das Galinhas


‘A CERCA NÃO ESTÁ SÓ LÁ FORA, ESTÁ NA SUA CABEÇA!’


O filme de animação Fuga das Galinhas (‘Chiken Run’ Direção de Peter Lord e Nick Park, 2000; 84min), passa-se na década de 50 numa granja chamada Yorkshire, onde a galinha líder Ginger busca incansavelmente uma maneira de sobreviver ao destino trágico, aos quais seus donos pretendem dá-lo, ou seja, transformá-las em tortas de galinha. Sem muito sucesso na empreitada eis que surge o “herói” o galo, Rocky. O qual tem a ambição de ajudar na reviravolta da vida das galinhas, ensinando-as a voar.

Sabendo que a partir da Revolução Industrial do século XVIII surgiram transformações sociais, políticas e culturais e que fora o ponto máximo para o surgimento da Sociologia como ciência no século XIX. Esta que buscava o entendimento e a reflexão acerca da ‘nova sociedade’ (industrial) constituída por uma nova classe dominante, a burguesia.

O filme retrata uma época anterior a moderna, onde antes a classe dominante seria os senhores de terras e a classe subjugada seria a dos trabalhadores rurais, isto é, os servos, denominados por Karl Marx na era Industrial de proletariados, ou seja, os operários que movimentavam o desempenho útil da fábrica. No filme as galinhas presas e mantidas sobre o poder da família Tweedy para o abatimento e produção da mercadoria final, a torta de galinha, são consideradas as operárias descartáveis da Indústria vigente. Já que sempre haveria uma grande demanda de renovação de operários encarregados das suas devidas funções. E no caso destas a sua produção estaria na fabricação de seus próprios ovos para venda e consumo do ser humano e a reprodução gradativa de galinhas no poleiro. Dando continuidade a todo maquineismo industrial.
Quando a líder da comunidade do galinheiro, a Ginger, se desdobra nas tentativas de mudar a situação de opressão em que todas vivem na granja. Esta atitude seria mais uma metáfora do surgimento da organização de trabalhadores em associação de sindicatos na busca pelos direitos e interesse da classe operária, reivindicando o bem- estar trabalhista.

Por variadas tentativas de escapar do sistema social em que se encontram, eis que de repente surge um ‘herói’ capaz de revolucionar as mentes e vidas delas, com o objetivo de libertá-las da opressão. Pois para Marx não seria a consciência que determinaria o estado do ser, mas o ser incluído no social teria a capacidade de determinar tal mudança na consciência. Então após o conhecimento de toda a revolta e dos planos falhos desenvolvidos pela própria comunidade, o personagem Rocky surge como uma espécie de visão ou mente externa a todo o sistema em que se encontram as galinhas. De forma a alertar que sempre existe uma saída ou uma resolução para os problemas, bastaria analisá-los sob outra perspectiva.

Desta forma a frase enunciada por Ginger: “A cerca não esta só lá foraEla está em sua cabeça”, vem para afirmar a tese de Marx, a qual nos diz que para explicar a consciência era necessário um conflito de existência entre a força produtiva (operários) e as relações de produção (empresariados). Onde tal força produtiva que é capaz de gerar condições materiais, estas a quais gerariam obstáculos nas relações de produção, assim criando a consciência do conflito existente entre ambas, sendo capaz de entrarem na luta pare tentar resolver os problemas existentes. É aonde viria à produção na construção de uma maquina (espécie de catapulta) capaz de colocar todos fora da cerca em que vivem.