sexta-feira, outubro 05, 2007

O Cronista é um Escritor crônico

O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá uns 16 ou 17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para os jornais e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São Paulo. Fiz de tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário. Mas foi somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do Brasil, em 1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor crônico.
O que é um cronista?
Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu ovo regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônicas são como laranjas, podem ser doces ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa ou espremidas na sala de aula.
Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto, com estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna, no deserto, meditando e pregando. São Simeão passou trinta anos assim, exposto ao sol e à chuva. Claro que de tanto purificar seu estilo diariamente o cronista estilita acaba virando um estilista.
O cronista é isso: fica pregando lá em cima de sua coluna no jornal. Por isto, há uma certa confusão entre colunista e cronista, assim como há outra confusão entre articulista e cronista. O articulista escreve textos expositivos e defende temas e idéias. O cronista é o mais livre dos redatores de um jornal. Ele pode ser subjetivo. Pode (e deve) falar na primeira pessoa sem envergonhar-se. Seu "eu", como o do poeta, é um eu de utilidade pública.
Que tipo de crônica escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições, anoto momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da crônica é interferir no cotidiano. Claro que essas que interferem mais cruamente em assuntos momentosos tendem a perder sua atualidade quando publicadas em livro. Não tem importância. O cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar encharcado, doente de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele.
by: Affonso Romano de Sant'Anna

5 comentários:

Fernanda Passos disse...

Menino, que análise certeira sobre a crônica e o cronista. Eu não sei escrever crônicas, mas tenho certeza que de quem escreve deve está enraizado no seu tempo/espaço e acima deles, para ser mais livre, para poder voar.
Um beijo.

Miss Keys disse...

Era pra ser :P

Aline Gallina disse...

Adorei o ponto q destacas sobre a crônica e o título+subtítulo do blog é espetacular. E como você mesmo disse no texto "não tem importância...o cronista é crônico". É bom pensar sobre a escrita. Dê uma visitada no meu novo blog que fiz com uma amiga:
http://cincoespinhos.blogspot.com/
e não esqueça de deixar sua opinião em nossa enquete.
Abraço.

Aline Gallina disse...

Olá! Então...sobre as nossas poesias, não, elas não estão sendo expostas em ônibus. São inéditas especialmente para o blog. Não sei se na sua cidade existem aquelas poesias coladas dentro do ônibus, a enquete fala dessas.
Sobre o texto do Afonso Sant'Anna, realmente, eu não havia reparado que era dele, mesmo assim muito bem escolhido.
Sobre textos de sua autoria, preste atenção ao final da página do "cinco estrelas", onde diz "GARIMPO SEMANAL". Quem sabe você é o próximo...
Obrigada pela visita!!!

Fernanda Passos disse...

Desculpe. Não tinha percebido o "By".
rsrsrs.
Mas n retiro uma palavra que escrevi.
Beijo.