quarta-feira, junho 13, 2007

Vox Animalorum - Roberto Pompeu Toledo

VOX ANIMALORUM
Em palpos de aranha, já farto,
ouvindo cobras e lagartos,
engulo sapos, dois a dois,
ponho o carro à frente dos bois,
tento, numa só cajadada,
pegar dois coelhos — que nada;
tropeço, insisto, arrasto as mágoas
…e dou com os burros n’água.
No mato, para onde corro,
percebo que estou sem cachorro.
Gato escaldado, mesmo fraco,
prossigo, e ao dar com os macacos ordeno:
“Cada um no seu galho!”— mas se juntam e me avacalho.
Encaro a cobra e mato — mas qual!
…esqueço de mostrar o pau.
Agora chove, e é em vão que falo:
“Por favor, tirem o cavalo”.
Aceito o abraço do urso, vacilo
às lágrimas do crocodilo,
ouso cantar de galo,
e no ato apanho o mico e pago o pato;
sofro, caio, trombo me aleijo
…enquanto a vaca vai pr’o brejo.
Engulo mosca além da conta,
giro como barata tonta,
e na hora em que a porca torce o rabo,
que vem a ser, ao fim e ao cabo,
a mesma em que a onça bebe água,
atraio a porca e a onça, afago-as,
apresso-me a fugir de esguelha
…mas fica a pulga atrás da orelha.
Ouço um tropel.
O chão sacode.
Lá vêm: expiatórios bodes,
criadas cobras, negras ovelhas,
vacas de presépio em parelha,
espíritos de porco em revoada…
Ganho montaria p’ra escapada:
é cavalo dado, um presente
…mas não agüento e olho os dentes.
Pronto. Chega de estripolias.
Moral da história, exata e fria:
não fosse a bicharada amiga,
como expor as muitas intrigas,
as peripécias e as dissídias que fazem parte desta vida?
Dito o quê, repouso das canseiras
…pensando na morte da bezerra.
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

2 comentários:

Imperfeccionista disse...

auhahuahua boa essa ^^
sim, nao sei onde achei seu blog :)
blog pra mim é que nem orkut.. vou abrindo um, pegando o link de outro.. quando vejo estou perdida.

um dia eu posto esse texto do toby, achei fantastico =)

alê disse...

oi wagner! adorei o texto e o desenho tb! bom s. joão pra vc tb!