terça-feira, junho 28, 2011

Resenha: "O escaravelho de Ouro e outras histórias - Inclui: O mistério de Marie Rogêt", por Wagner Bezerra Pontes

POE, Edgar Allan. O escaravelho de ouro e outras histórias- Inclui: O Mistério de Marie Rogêt; Tradução de Rodrigo Breuning e Bianca Pasqualini- Porto Alegre, RS: L&PM-POCKET, 2011. 240p.V-912.

Edgar Allan Poe nasceu em Boston, no ano de 1809 nos Estados Unidos, filho de um casal de atores. Seus pais após morrerem de tuberculose, Poe, aos dois anos de idade, fora adotado por John Allan - rico comerciante - tendo assim um infância feliz. Em 1826, aos dezessete anos ingressou na Universidade de Virginia. Em 1827, publicou seu primeiro livro de poemas: "Tamerlane and other Poems". Tornara-se escritor, poeta, romancista, critico literário e editor do jornal Sothern Literary MessengerConsiderado ao lado de Julio Verne, o precursor da literatura de ficção cientifica moderna, escreveu novelas como: Assassinatos da Rua Morgue A carta roubada, O relato de Arthur Gordon Pym, com características de um romance policial. Onde figuram assassinatos brutais e aparentemente sem solução, numa simbiose de clima sombrio beirando o fantástico, de personagens psicologicamente tenebrosos capazes de atuarem no precipício da lucidez à loucura. Poe morreu aos quarenta anos de idade, em 1849, nas ruas de Baltimore na miséria e na solidão. Inspirou artistas posteriores como, Baudelaire, Maupassant e Dostoievski

O livro O escaravelho de Ouro e outras histórias, é composto por treze contos magníficos tendendo a serem lidos num só fôlego, por se tratar da reunião das principais características da escrita Edgardiana. Narrativas utilizadas na perspectiva de primeira pessoa, as quais têm o intuito de aproximar o leitor da realidade-ficcionada, buscando assim um certa verossimilhança. E é notável a recorrência dos temas sobre a morte, a loucura, o terror-macabro, o fantástico e as pseudociências
As abordagens dos contos de Poe são de teor psicológicos, não tratando o meio externo como objeto ou via principal para o desenrolar da historia. Já que a causa para as atitudes e consequências da trama são influenciadas pelo próprio distúrbio intrínseco e incógnito das personagens. 

Logo no primeiro conto, Manuscrito encontrado numa garrafa, somos abordados pela intervenção do personagem-autor de que a história a ser relatada poderia ser antes de tudo um "desvario de uma imaginação rude do que a experiência concreta de uma mente para qual os devaneios da fantasia eram letra morta e nulidade." Afirmando o relato de toda uma viagem em alto mar e suas consequências para a fantástica existência de um navio fantasma. Em O encontro, um fato de repugnância numa "noite de escuridão incomum" na cidade de Veneza, nosso narrador relata tal ato: "Uma criança escorregara dos braços da própria mãe e, de uma janela alta do imponente prédio, cairá no profundo e turvo canal." Desencadearia da ação de um salvador à conquista do coração materno da Sra. Mentoni, e grandes diálogos sobre arte e poesia entre o narrador e Sr. Mentoni, o qual articulara um trágico fim na relação esculpida numa noite como mármore fria. 

Em Morella, nota-se citações de ideais de filósofos alemães do século XVIII e XIX -Johann Gottlieb Fichte e Frederich Wilhelm Joseph von Schelling- e do filosofo inglês John Locke, sobre a existência racional e de identidade pessoal do homem. Que diante da presença do conflito psicológico do narrador-personagem, servem como justificativas para a ação marcante e primordial da personagem que se dará na construção e desenrolar da trama. Onde o delírio mesclado à realidade, impossibilita a razão diante de seus sentimentos, medos e angustias inclinando-o a um crime brutal. Capaz de deixar o leitor ao final do conto num perplexo labirinto de interrogações e dúvidas acerca da vitima amargada. A conversa de Eiros e Charmion, é simplesmente uma alegoria de um diálogo entre um Deus e um homem sobre a raça humana e seu destino. O quinto conto Uma descida para dentro do Maelstron, mais uma vez nos remete a vida de navegantes ou pescadores, um deles fora tragados por um redemoinho e sobrevivera para contar a história fantástica e o que lhe aconteceu. 

Em O mistério de Marie Rogêt, principal conto que veio a dar impulso na carreira literária de Poe, é a única narrativa deste livro em que o inspetor Dupin reaparece como protagonista na resolução de mais um mistério criminal. Este conto é considerado primordial por conter um rigoroso sistema lógico e analítico na interpretação dos fatos ocorridos e divulgados por muitos jornais da época, isto é, um fato verídico em New Jersey (E.U.A). Onde o corpo de uma garota popular de seus vinte dois anos, é encontrada boiando no rio próximo à cidade, sem vestígios do assassino. O coração delator é o conto que mais me cativou e chamou a atenção pela semelhança ao romance de Fiodor Dostievski, Crime e Castigo. Não porque é abordado novamente o tema da loucura e morte como em todos os contos de Poe, mas neste conto o personagem é movido por uma corrosão angustiante de agonia, medo e repugnância para com os olhos de seu senhor, um velho rico, que possui um "olho de um abutre - um olho azul-claro, com uma membrana por cima." Mais uma vez constatamos um "fluxo de consciência" recorrente na escrita de Poe, onde há sempre uma luta psicológica e absurda de seus personagens contra seus anseios e medos. Levando ao fim do conto o leitor a rir da sutileza e leve ironia do terror praticado e vivenciado pela personagem. O escaravelho de ouro, se trata de um conto sobre piratas e  um tesouro perdido, onde a sua riqueza está na utilização de criptografias e da decifração para o desenvolvimento da história. 

Um conto das Montanhas Escabrosas  já diz do que se trata, mas novamente nos vemos diante do tema da loucura e aqui se dá abordagem a pseudociência. É relatada a experiência vivida de um rapaz chamado Bedloe, o qual tem a aparência "de um cadáver enterrado", nas Montanhas Escabrosas numa clima de sonho ou ficção, insinuando o fantástico. O sepultamento prematuro, aborda  novamente as pseudociências e os variados fatos ocorridos de pessoas que foram enterradas aparentemente mortas, mas após algumas horas ou dias ressuscitaram milagrosamente. Portanto o conto não conclui só com estes relatos, mas com o frenesi da personagem-narrador em acreditar que algum dia poderá ser enterrado vivo. Onde termina com uma critica ferrenha aos conhecedores da Razão e a alegoria do Mito da caverna de Platão. 

A caixa oblonga retrata mais uma vez a visão do homem no mar, onde um comandante ou o responsável pela organização dos passageiros no navio, se depara com muitos conhecidos e em particular um deles é seu melhor amigo de faculdade, um artista (pintor). De temperamento genioso e sensível embarcou sem o consentimento do comandante com uma caixa oblonga que não fora depositada na cabine extra, mas no quarto. Sem saber ou desconfiando do que se trata a caixa, a viagem prossegue sem alarmes até o momento em que uma insinuação do que teria dentro dela, viria a perturbar drasticamente o narrador durante toda a sua vida após de um trágico acidente. Tu és o homem a história se passa em Rattleborough quando um senhor rico é assassinado e as suspeitas caem em cima do seu sobrinho, o único detentor da família a herança. De fato outro conto muito bem trabalhado, onde reina o suspense e o terror, capaz de arrepiar meus cabelos do homem mais bravo. O último conto é O demônio da impulsividade onde diante de seus desejos e medo sua consciência ou demônio parecem surgir com vida e impulsividade para relatar todas as atrocidades cometida pela personagem.

Poe, pode ser caracterizado como um autor de múltiplas facetas, já que há abordagem de temas e métodos diferenciados na sua escrita. Neste livro de curtas histórias mas de grande impacto emocional, revelam o poder de persuasão e de criação artística deste grande autor americano, considerado o melhor nos contos de terror ou "gótico". 

Resenha realizada pelo estudante de Letras da Universidade de Pernambuco,

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