sexta-feira, agosto 28, 2009

A passagem por Wagner Bezerra Pontes


A passagem



O sol lambia minhas costas, enquanto eu olhava o ponteiro do relógio que marcara a hora do encontro. Os carros, as pessoas e todo ruído num só ritmo circulava frenética e assustadoramente ressoavam em meus ouvidos, onde uma turbulência acompanhava a falta de incompreensão em minha mente. Inspirando, expirando e num compasso contínuo a cabeça caia de volta ao céu.

O som da rua por vezes vinha como o chiar da espuma das ondas do mar, sufocante e reparador. A brisa quente não dava trégua e o suor já a aceitava na sua sinfonia dissonante tornando a espera eterna, árdua, e fria. Porque a espera sempre é densa, cansativa e contínua, mas a beleza, a beleza é segurar a mão dela sentindo o calor e o suor comporem junto à canção de que tudo um dia prosseguirá para seu fim. Mas quando o verão se vai e o outono chega, ainda seguimos exaustos e amargos na imensidão, e seguir o universo é complicado. Não tinha refletido com vigor todas estas alumiações, só as sentia. Mas quem em sã consciência transpiraria falsas verdades para satisfazer o pequeno ego, que teima em existir. Não sei, porém não acredito nas multidões delirantes, elas não existem.


O céu docemente pervertia seu azul celestial num alaranjado vermelho saudosista, o qual teimava sorrir para mim enquanto corriam lágrimas de meus olhos. Já as nuvens timidamente escondiam-se daquele rio salobre. Não hesitei em cutucar o ponteiro do relógio mais uma vez, e nesse momento descobrira o significado fórmico daquelas luzes na escuridão e enquanto olhava uma delas escorrerem pelo infinito, lembrei de seus olhos, de sua boca, de sua voz, de seu cheiro e da chuva que rebatia contra a terra com a ajuda do vento. E sabia que tudo o que me acontecera, era por causa de seu mundo, o mundo no qual fui sugado e abandonado em sua imensidão, sem chances de sobreviver, pois amá-la era minha própria resignação.

2 comentários:

Chuvinha disse...

Render-se também é uma forma de vencer.

Anônimo disse...

Você escreve de uma forma maravilhosamente encantadora.
www.inivaldogisoatoleitor.blogspot.com