A passagem
O sol lambia minhas costas, enquanto eu olhava o
ponteiro do relógio que marcara a hora do encontro. Os carros, as pessoas e
todo ruído num só ritmo circulava frenética e assustadoramente ressoavam em
meus ouvidos, onde uma turbulência acompanhava a falta de incompreensão em
minha mente. Inspirando, expirando e num compasso contínuo a cabeça caia de
volta ao céu.
O som da rua por vezes vinha como o chiar da espuma
das ondas do mar, sufocante e reparador. A brisa quente não dava trégua e o
suor já a aceitava na sua sinfonia dissonante tornando a espera eterna, árdua,
e fria. Porque a espera sempre é densa, cansativa e contínua, mas a beleza, a
beleza é segurar a mão dela sentindo o calor e o suor comporem junto à canção
de que tudo um dia prosseguirá para seu fim. Mas quando o verão se vai e o
outono chega, ainda seguimos exaustos e amargos na imensidão, e seguir o universo
é complicado. Não tinha refletido com vigor todas estas alumiações, só as
sentia. Mas quem em sã consciência transpiraria falsas verdades para satisfazer
o pequeno ego, que teima em existir. Não sei, porém não acredito nas multidões
delirantes, elas não existem.
O céu docemente pervertia seu azul celestial num
alaranjado vermelho saudosista, o qual teimava sorrir para mim enquanto corriam
lágrimas de meus olhos. Já as nuvens timidamente escondiam-se daquele rio
salobre. Não hesitei em cutucar o ponteiro do relógio mais uma vez, e nesse
momento descobrira o significado fórmico daquelas luzes na escuridão e enquanto
olhava uma delas escorrerem pelo infinito, lembrei de seus olhos, de sua boca,
de sua voz, de seu cheiro e da chuva que rebatia contra a terra com a ajuda do
vento. E sabia que tudo o que me acontecera, era por causa de seu mundo, o
mundo no qual fui sugado e abandonado em sua imensidão, sem chances de
sobreviver, pois amá-la era minha própria resignação.
2 comentários:
Render-se também é uma forma de vencer.
Você escreve de uma forma maravilhosamente encantadora.
www.inivaldogisoatoleitor.blogspot.com
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