segunda-feira, outubro 01, 2007

Das conclusões

Havia esvaziado. Tinha vivido o suficiente para entender a invalidez da experiência. Aos 25 não soubera ser adulto, aos 60 não sabia ser um idoso e sim, um adulto. Mas os 25 já passaram e ninguém volta a ser o que foi. A solução era seguir cegamente com passos firmes. E caminhava repleto de histórias e com experientes certezas despencando. Cambaleante como um bêbado que finge não estar e finge acreditar no fingimento alheio. Era cruel o que fazia consigo: se desnudava das verdades, apesar de necessitá-las.
Nunca tivera uma boa relação com a realidade. Ironizava-a. Esta sempre fora fria. E o seu Eu quente tinha calafrios. Sustentava a existência com várias pernas. Por vezes, os homens assim o fazem. Em muitos momentos, se cercam de tantas que estancam. Vale lembrar que basta um tripé para ganhar a estabilidade. E perder a mobilidade.
Conhecera uma senhora que, tendo caído e fraturado o fêmur, desistira de andar com as próprias pernas. Ela havia experimentado a dor. Usava uma bengala e ainda assim, reclamava “me faltam forças”. Segurança. Aquela coisa visceral que não se encontra por aí e nenhuma experiência pode, incondicionalmente, garantir.
"... é que um mundo todo vivo tem a força de um inferno" Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

Um comentário:

Nata disse...

É isso mesmo :)

A gente pode ser o que se é, mas, por vezes, precisamos dos outros para nos proteger de nós mesmos...

Um cheiro!

PS - Obrigada! :*